"Eleições não constituem processo sem lei", afirma Fachin |
O ministro Edson Fachin,
recém-empossado na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou
hoje (23) que a Justiça Eleitoral já estuda os meios jurídicos mais viáveis
para punir aplicativos de mensagens que permitam a disseminação de
desinformação contra candidatos ou contra o próprio processo eleitoral.
“Ainda que seja a última resposta [impor limites a um aplicativo de mensagem],
será a atitude que se espera da Justiça Eleitoral, que deve zelar pela paridade
de armas no certame eleitoral. As eleições não constituem um processo sem lei”,
disse Fachin, que nesta quarta-feira (23) concedeu a primeira entrevista
coletiva como presidente do TSE.
O principal alvo de preocupação da Justiça Eleitoral é o Telegram, que está
entre os aplicativos de troca de mensagens mais usados no Brasil e onde, hoje,
não há empecilhos para qualquer tipo de comunicação. O TSE já fez diversas
tentativas de interlocução com a empresa responsável pela ferramenta, cuja sede
fica em Dubai, Emirados Árabes Unidos, porém sem sucesso.
Questionado mais de uma vez sobre o Telegram, o ministro respondeu, sem citar o
aplicativo especificamente, que seria “especialmente oportuna” a aprovação de
alguma regra sobre o assunto pelo Congresso. Ele informou que, se isso não
ocorrer, o TSE prepara uma tese jurídica, com base em legislações já existentes
sobre internet e eleições, que permita colocar limites a aplicativos rebeldes.
“Nenhum mecanismo de comunicação está imune ao Estado de Direito”, afirmou o ministro. Usando um jogo de futebol como metáfora, Fachin disse que o juiz não contabiliza apenas os gols para saber o vencedor e que, ao longo da partida, também “dá cartões amarelos e às vezes promove expulsões”.
Ele frisou, contudo, que
a Justiça Eleitoral ainda insiste na tentativa de diálogo. “Ainda não nos
afastamos de todo da ideia de que seja possível estabelecer um diálogo
mínimo, com padrões mínimos de comportamento, em relação a toda e qualquer
plataforma que tenha operação com usuários brasileiros”, disse o presidente do
TSE.
Fachin destacou que pretende, em sua gestão, deixar como legado uma estrutura
permanente de defesa da imagem institucional da Justiça Eleitoral.
“A desinformação chegou para ficar. Os programas de combate à desinformação não
podem ser transitórios”, disse. Ele disse que, em reunião realizada nesta quarta-feira
com os presidentes dos 27 tribunais regionais eleitorais, já começou a discutir
como capilarizar tal combate em núcleos locais.
Urna eletrônica
Fachin foi também questionado sobre falas do presidente Jair Bolsonaro que colocam em dúvida o funcionamento da urna eletrônica, e se as respostas contundentes que tem dado não podem ser vistas pelo eleitor como parciais em relação ao presidente.
O presidente do TSE respondeu que se expressa de modo mais contundente “apenas se e quando a própria instituição [Justiça Eleitoral] esteja sendo injustamente atingida”.
“Se houver ofensas injustificadas à Justiça Eleitoral, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral digo que nós vamos responder e seremos implacáveis,” disse Fachin. “Agredir a instituição da Justiça Eleitoral significa hoje colocar em discussão a realização das próprias eleições”, acrescentou.
Por Agência Brasil - Brasília – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil